quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Nada a ver com Brazzaville (3)

Morreu António Sérgio.



Eu, quando for grande, gostava de escrever assim:



"O som da frente

Por Miguel Esteves Cardoso

Com que então, morreu António Sérgio. Ora muito obrigado. Obrigado, Deus, por teres decidido. E obrigado, António, por te teres deixado levar. Veio mesmo a calhar a tua morte. O teu trabalho aqui na terra estava mais do que acabado e, graças a Deus, há centenas de novos Antónios Sérgios para te substituir. Que grande pontaria.

O que andam vocês todos a tramar na afterlife? A afterlife é a mais cool de todas as after hours. Não é música toda a noite e todo o dia: é música toda a cabrona da eternidade. Já lá estava uma redacção de sonho: o Rolo Duarte, o Fernando Assis Pacheco,o Cáceres Monteiro, o Manuel Beça Múrias, o Afonso Praça, a Edite Soeiro, o Eduardo Guerra Carneiro. Com uns colaboradores que já não existem e cujos nomes são tantos e tão grandes que não nomeio sequer um, com medo de vos deprimir com a comparação com a lista dos que ficámos vivos.

Que jornal; que revista; que estação de rádio estão vocês a fazer aí no pós-vida? Não lá em cima, no céu, mas aqui ao lado, paralelamente, no after, no depois, no enquanto estamos a dormir e a viver.

A morte de tanta gente boa faz-me acreditar que, quando cada um de nós morrer, seremos bem recebidos. Haverá bons inéditos; bons jornais; boa música; bom cinema. Imaginem só Bach, Wagner, John Lennon, Ian Curtis, Stockhausen - e, para apreciar e descobrir o resultado, António Sérgio.

Como sempre, adiantaste-te. E nós vamos atrás de ti. Está certo. Foi sempre assim."


Via Maradona (que também escreve extraordinariamente bem!!!)

4 comentários:

  1. É Verdade... às vezes leio coisas e penso: "Fogo, gostava de um dia conseguir escrever assim..."

    Acontece-me frequentemente com o MEC. Experimenta seguir o Blog do Maradona. Os temas, ás vezes são estranhos e nem se percebe muito bem, mas ele escreve... Mesmo bem!!!

    Para mim, são dois exemplos de "doidos conscientes", ao estilo de um Henry Miller. Visionários na forma de percepcionar a realidade. Conseguem pegar na sua dose de "loucura" e transforma-la num Dom, usando-o para agitar as consciências de quem os rodeia.

    Abençoados os "Doidos Conscientes"!!! ;-)))

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  2. Amigo Paulo, como agora desde que cheguei a São Paulo estou com mais tempo ao fds (este é o meu primeiro fds em São Paulo), ou seja, posso ficar mais tempo na net, resolvi ver o teu blog, e começou bem com uma honrosa e merecida homenagem a um Grande Sr. da Rádio em Portugal.
    Passei algumas noites na TSF com ele o Mário Dias, o Pedro Malaquias e o Vitinho (a fazerem letras para músicas), a minha mulher, o filho do Cáceres Monteiro, e muita outra malta que trabalhava na TSF e na NRJ, e era realmente um pessoal muito porreiro.
    Mas depois utilizas-te palavras do MEC, que embora eu também já tenha gostado e às vezes gosto de revisitar, está agora muito nostálgico, e até um pouco parvo na maneira como escreve, o alcoól e a droga queimaram-lhe a maior parte dos neurónios.
    E por fim uma frase do meu sogro que pode definir um pouco o meu estado de espírito, e se calhar também o teu:
    "Não há com a ausência
    Para sentir na plenitude
    o significado da palavra
    Saudade"

    Um grande abraço

    E só mais uma do Grande Aquilino, "Alcança quem não cansa"

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  3. Fiquei esmagado pelo teu comentário...

    Gosto do MEC!!! Sim, tem algumas falhas, mas não deixo de gostar... E escreve..."Pa' caraças"!!!

    Espero que esteja a correr tudo bem aí por SP e que essa nova etapa seja um sucesso em todos os aspectos!!!

    Estou contigo na citação do Grande Aquilino:

    "Alcança quem não cansa"

    Continuamos no "caminho"... E eu não me sinto nada cansado.... ;-)))

    Boa sorte para tudo e GRANDE ABRAÇO

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